PERIPÉCIAS DE CRIANÇAS

 






Conforme anunciado na página inicial do blog, a partir de agora esta página passará a comportar duas secções do alter nativa, que antes vinham sendo apresentadas em páginas separadas: "Peripécias do Lyllo" e "Papos de criança". O motivo é a economia de espaço, já que este é limitado – não podemos ultrapassar 10 páginas. Mas a providência não afetará o conteúdo das seções, que continuarão a receber o mesmo carinho de sempre. Além do mais, é tudo coisa de criança, mesmo.
 


Eric e os sentimentos
Tendo mudado de casa o pequeno Eric, agora com 5 anos mal completados, mudou também de creche. E o horário agora é matutino, começando a “jornada” às sete da manhã. Já no primeiro dia, o padrasto André acordou o menino, fê-lo tomar café e levou-o de carro à instituição. No caminho, André provocou o normalmente falador mas ainda amuado Eric:
- Tá calado hoje porquê, Eric?
- Você me acordou muito cedo. Você não tem sentimento nessa cabeça?


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Dora e o nome da irmãzinha
A pequena Dora aguarda a chegada de uma irmãzinha. Durante uns três meses os pais procuraram um nome adequado para a nova integrante da família. Discute daqui, discute dali, os nomes surgidos eram exaustivamente analisados, até que, finalmente, as coisas clarearam: o nome da menina seria exatamente esse: Clara.
Dora, aparentemente, já estava cansada dos infindáveis debates. Ao ser informada do nome da pequena, desabafou:
- Ah, bom. Ainda bem que terminou essa conversa...


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O BIZUCO DO THEO
O pequeno Theo, um ano, três meses e alguns dias, está aprendendo as suas primeiras palavras. Obviamente, os tropeços verbais são muitos. Além dos tradicionais mamãe, papai, vovó e vovô, algumas palavras saem. Truncadas, mas saem. Algumas bem interessantes. Assim, ‘biscoito’ virou bizuco na linguagem do infante. Os familiares acharam engraçado. De tal forma que o neologismo virou mania entre eles. Era um tal de bizuco pra lá, bizuco pra cá, todo mundo adotando o novo termo de uma forma brincalhona e descontraída.
Fim de semana na praia, família toda junta, Theo esfalfava-se de correr atrás da bola. Cansou. Incentivado pela mãe, veio sentar-se à sombra. Alguém lembrou de dar-lhe algo para comer. Conferida a bagagem, a constatação: não havia nada. Tinham esquecido de trazer o bizuco.
Alguém (não estou autorizado a divulgar o nome) se dispôs a ir ao quiosque próximo para comprar alguma coisa para o pequeno. A atônita atendente foi interpelada:
- Vocês têm aí algum tipo de bizuco pra vender?
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O caramujo
Arthurzinho brincava no quintal e achou um caramujo africano. A mãe viu a cena, porém com a visão prejudicada para identificar o bicho. Perguntou ao garoto:
- É um caramujo, filho?
- É sim, mamãe.
- Africano?
- Acho que sim. É preto.

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Ivanzinho (o Terrível) não é mais tão novinho assim, já entende de muitas coisas. Muitas mais do que imaginam alguns adultos e isso às vezes incomoda o pai. O menino ouviu na TV a notícia da doença do ex-presidente Lula e os comentários de que o tratamento de quimioterapia ao qual ele seria submetido iriam provocar a queda dos cabelos, o que lhe aguçou a curiosidade. Perguntou ao pai:
- O Lula vai perder a barba também, pai?
- Vai. E não me pergunte mais nada além disso!

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Luizinho ficou doentinho e preocupou os pais, que imediatamente providenciaram uma consulta com um renomado pediatra, o Dr. Jorge Aramis Leão, ou simplesmente Doutor Leão, como é amplamente conhecido. Quando ouviu os pais falarem sobre o médico e o comentário de que ele adorava crianças, o pequeno caiu na choradeira, inconsolável. A mãe procurou acalmar o menino:
- Não tem nada demais em consultar um médico, Luizinho. Você está doente e ele vai te dar um remedinho para sarar. Logo vai ficar bom. O Doutor Leão é um médico bonzinho.
- Esse Doutor Leão não vai me morder, mamãe?
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Verônica, irmã mais velha do Arthurzinho, trocou de namorado. Antes namorava o Augusto, um bancário, e agora está com o Maurício, que trabalha numa empresa de seguros. Segundo a moça, ela gosta mesmo é do Augusto, o Maurício é apenas um “paquera de emergência”.
Arthurzinho não ligava muito para os romances da irmã, o negócio dele era mais para a área mecânica. Dia desses, o menino acompanhava o pai na faina de limpar o automóvel. Por alguma razão, nunca havia percebido a existência do pneu-socorro. Questionou o pai e este explicou o porquê da presença do pneu e a sua denominação correta: era o estepe, pneu sobressalente que servia para ocasiões de emergência, para que o carro não fosse obrigado a ficar parado por falta de pneu, quando furasse um dos que estavam rodando. Na hora o pequeno arrematou:
- Pai, o Maurício é o estepe da Verônica?

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A escola maternal em que Chiquinho “estuda” participou ativamente da Semana Nacional de Trânsito. Agentes estiveram na escola para conscientizar as crianças sobre o adequado comportamento no trânsito – o que é uma medida muito interessante e elogiável. O menino saiu da escola obstinado com a possibilidade de por em prática os seus novos “conhecimentos”. Já no caminho de casa, a bordo do carro dirigido pela mãe, Chiquinho fez questão de serem obedecidos todos os ditames do CAT (para quem não sabe, CAT = Comportamento Adequado no Trânsito – se ainda não existir, é bom que seja criado). De acordo com o CAT, ele só pode ir no carro (é errado dizer “andar no carro”; ninguém anda no carro, todos vão sentados – a exceção de anões, que às vezes podem ir em pé) apropriadamente sentado no assento elevador e com o cinto de segurança devidamente afivelado. Assim foi. Quando a mãe atendeu uma ligação no celular, Chiquinho advertiu:
- Não pode atender o celular quando tá dirigindo, mãe!
- Foi bem rapidinho, Chiquinho. Foi o papai que ligou.
- E o papai não sabe que ninguém pode atender o celular quanto tá dirigindo?
- O papai não sabe que a mamãe tá dirigindo. Quando o papai liga, ele não pode saber se a mamãe tá dirigindo ou não. Ele nem sabe onde eu estou...
- Ah, é? E como é que ele te acha, então?

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Em viagem de carro, Djan ia na companhia dos pais. Em certa altura do percurso passaram por um local onde algumas galinhas ciscavam à beira da estrada, uma delas comboiando uma trupe de pintainhos. Dona Vera, a mãe de Djan, comentou sobre a temeridade de tais animais procurarem alimento às margens de uma rodovia asfaltada, enfatizando o perigo de serem atropeladas as galinhas e também os pequenos filhotes. Djan não perdeu a oportunidade de se fazer ouvir:
- Ah, já sei, mamãe: é porque a galinha não tem mão pra pegar na mãozinha dos pintinhos pra atravessar a estrada, né?

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Na festinha do seu terceiro aniversário, Rubinho (qualquer semelhança com o Barrichello é mera coincidência) foi posto diante do bolo comemorativo e desafiado a soprar as velinhas. Queixou-se à mãe, depois da terceira tentativa:
- Não consigo ventar com força, mamãe!

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Eric viajando de ônibus com a mãe, em trajeto entre a casa e a escola maternal. Ele na janela, olhando o mundo. Início de tarde, sol escaldante, os raios penetrando ônibus adentro. Quando o veículo mudou de direção numa esquina, fez-se sombra no lado em que estava o menino e ele, explosivo:
- O sol apagou, mamãe...

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Outra do Eric: no inverno, frio – mesmo na região litorânea –, a maioria das pessoas apresentando algum tipo de disfunção respiratória. O defluxo nasal, popularmente conhecido por coriza, afetando a maioria. O garoto também. Foi se queixar à mãe:
- Mamãe, o meu nariz tá escorregando...

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01.ago.11 - Dona Mariana explicava ao Daniel, dois anos e alguns meses, a diferença entre sexos:
- Dani, você é um menino – é masculino. Sua irmã Eliana é menina – é feminina. Você entendeu?
- Entendi, mamãe. Eu sou menino...
- Sim, Dani, você é um menino. É masculino. E a sua irmã é o que?
- Filipina.

02.ago.11 - Os pais de Rafael levaram o menino para Ciudad Del Este, no Paraguai, onde faziam compras. Foi a primeira vez que o pequeno Rafael, três anos, saiu do Brasil. Ficou intrigado com o palavreado dos paraguaios:
- Mamãe, por que essa gente fala errado?
- Eles não falam errado, filho. Eles falam outra língua. Falam em castelhano misturado com guarani. É paraguaio mesmo, pronto! Nós falamos o português, que é diferente.
- E por que todo mundo não fala igual?
- É porque cada povo tem a sua língua. Existem muitas línguas diferentes no mundo...
- Eu também tenho uma língua diferente e falo igual os outros.
Dona Solange estava perdendo a paciência:
- Mais tarde você vai entender. Agora fique quieto que nós precisamos ver uns artigos para comprar...
- Eu vou ficar quieto, mamãe. Só não entendo porque eles não falam que nem gente direita...
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Papo I
Dorinha, minha netinha, aos dois anos e meio de idade, passeando comigo e com a amicíssima Celinha na praia da Enseada, São Francisco do Sul, Santa Catarina. Eu no volante e Dorinha no colo da Célia, ao passarmos a ponte sobre o Rio Acaraí, maré intermediária, águas plácidas, quase fim da tarde, nuvens e vegetação se refletindo na superfície, a menininha olha na água e comenta:
- O céu caiu, vovô.
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Papo II
Luizinho – dois anos e meio – acompanha a mãe numa visita à casa dos tios. Chegaram na hora em que tio Henrique fazia exercícios de caminhada na esteira elétrica. Luizinho:
- Por que o que o titio tá andando nessa coisa, mãe?
- O teu tio ta fazendo esteira.
- Eu também quero fazer besteira, mãe...
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Papo III
Comentário entre adultos:
- Vocês viram, ontem lá na África, caiu um avião no Congo.
Paulinho, três anos, se intrometendo:
- No congo de quem, tio?

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Papo IV


Eric, três anos, brincava no quintal. A mãe chamou:
- Venha já pra dentro de casa Eric. Larga esse cachorro!
- Ele tá linguando eu, mamãe...



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Papo V
Os pais do pequeno Djan, três aninhos, viajavam por uma estrada no interior do Paraná. Ao passar na frente de um posto de combustíveis viram, estacionado no pátio, um veículo semelhante a um ônibus, espalhafatosamente pintado em cores berrantes. O pai comentou:
- Ou é um ônibus de conjunto musical ou é um motorhome de boiolas...
No cérebro de Djan a informação foi processada equivocadamente. Por falta de maior afinidade com a matéria abordada, “boiola” acabou no escaninho dos esportes e confundido com o verbete “boleiro”. Que, como todos sabem, é sinônimo de jogador – de futebol, evidentemente.
Dias depois, sentado no sofá da sala, ao lado do pai, prestes a assistirem o jogo de futebol entre as seleções do Brasil e do Equador, quando as duas equipes surgem entrando em campo, lado a lado, o menino quis saber, curioso:
- Quantos boiolas jogam em cada time, pai?

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Papo VI
Andrezinho tem seis anos. Lá vem o Andrezinho:
- Ói meu desenho, pai!
- Hum, hum... o que é que esse cara ta olhando, lá em cima?
- Nada, pai. Ele levou um tiro no pescoço. É um bandido.
- Ah, sim!... Então esse outro cara é um policial, né?
- É o guarda, pai. Ele atirou no bandido.
- E o que foi que o bandido fez?
- Ele roubou dinheiro de um cara rico, pai.
- E onde tá o dinheiro?
- O guarda já pegou o dinheiro de volta. Já devolveu pro dono.
- Ah, bem! E por que o cara ta com a cabeça virada pro céu?
- Porque levou um tiro, ora. E ta caindo... assim, ó – e faz um movimento de queda para trás.
- Mas como é que ele tá caindo, se a bala ainda está no meio do caminho?
- Esse aí é um outro tiro, pai! Ele tá caindo por causa do primeiro tiro.
- Então o guarda deu dois tiros no bandido?
- É, pai.
- Mas por que o guarda não prendeu o bandido em vez de atirar nele?
- Porque não tem lugar pra colocar o bandido, pai.
- Por que não levou o bandido pra cadeia?
- Porque não tem mais lugar na cadeia, pai. Tá tudo lotado lá na cadeia. Tem bandido demais por aí...


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18.ago.11 - Vanda e Alice, duas amigas, ambas casadas, estão numa loja de departamentos – o pequeno Pedrinho, filho da primeira, está junto –, quando Alice aponta para um par de botas femininas:
- Veja só o preço dessas botas, Vanda. Parece couro de jacaré...
- Não é jacaré, Alice. É sintético.
Alguns passos depois, Pedrinho não se agüenta e pergunta para a mãe:
- Mamãe, que bicho é esse, o sintético?
- Sintético não é bicho, Pedrinho. Sintético é uma coisa artificial, que não é verdadeira. É uma coisa “de mentirinha” – simplificou a mãe para exemplificar.
Dias depois, Pedrinho, em casa, aparece com a cuequinha borrada. A mãe quis saber:
-Você está com dor de barriga e soltou um pum, Pedrinho?
- É sim, mãe...
- Por que não me avisou?
- Pensei que fosse uma dor de barriga sintética, mãe...

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O pequeno Rodrigo nem sabe o que vem a ser um rim, mas ouviu um comentário dos adultos.
- Mamãe, por que nós temos dois rins?
- Porque Papai do Céu achou que deveríamos ter dois, então nos fez assim, com dois rins, dois pulmões, dois olhos, dois ouvidos...
- E por que fez a gente com um pipi só?




Thiaguinho teve um sonho bastante complicado mas muito vivo, quase palpável. Ficou intrigado e resolveu consultar o Lyllo. O elfo gaiato ensinou:
- O sonho é uma fantasia da cabeça da gente. O cérebro das pessoas pega as coisas que acontecem com elas, mistura tudo e inventa as histórias. Só que o cérebro tem uma coisa que as pessoas não percebem: ele pode adivinhar as coisas que vão acontecer no futuro. Então ele pega também essas coisas do futuro e mistura com as coisas que acontecem no presente. Se a gente soubesse separar as coisas do presente que estão nos sonhos, sobrariam só as coisas do futuro, e então a gente podia prever o que vai acontecer. Algumas pessoas acham que conseguem fazer isso, então usam os sonhos para adivinhar o futuro, mas isso é quase impossível, porque o cérebro não deixa que as coisas do presente e do futuro sejam separadas.
- E como as coisas do futuro aparecem nos sonhos, Lyllo?
- Aí é que está o problema. Ninguém consegue distinguir essas coisas, porque elas estão misturadas com as coisas do presente. Por isso você, às vezes, sonha com alguns negócios absurdos. Como as pessoas não sabem o que é do futuro, não conseguem identificar essas coisas.
- E quando a gente sonha com coisas ruins? Com bichos feios, por exemplo?
- É outra complicação. O cérebro das pessoas usa um disfarce para mostrar o que vai acontecer e também o que já aconteceu. Se você sonha com um monstro, não quer dizer que um monstro vai atacar você. Isso depende do que o cérebro entende como monstro. Pode ser um bicho feio ou pode ser só uma coisa grande. Como cada cérebro pensa de um jeito diferente, fica impossível de saber.
- É meio complicado, né? É melhor pensar em outras coisas...


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O Lyllo é um sujeito todo especial e original. Vive no mundo das nuvens. É surreal por natureza. Você já ouviu a expressão “viajar na maionese”? Pois é: o Lyllo é um eterno e constante viajante. Você vai conhecê-lo melhor lendo as brilhantes idéias expostas nesta coluna.
            As crianças vivem num mundo de fantasia. Ainda sem um contato seguro com a realidade da vida e muitas vezes titubeando entre as ilusões e o mundo real, elas criam os seus lyllos com quem procuram o diálogo confortador de um amigo que geralmente não encontram entre os adultos que os cercam. Fernando Sabino, em seu excelente “O menino no espelho” abordou brilhantemente a figura do lyllo. Depois de uma certa idade o Lyllo vai embora. Mas o figuraça é intrometido por natureza e, vez por outra, vem dar os seus pitacos no mundo dos homens maduros também.
O nosso Lyllo é inspirado na criação do Bruninho, meu sobrinho-neto, aos três anos de idade. Bruninho, filho do meu sobrinho/filho Marcos e da esposa Anacléa, mora em Paranavaí/PR e inventou o Lyllo em suas fantasias de criança. O autor adotou a idéia, tão brilhante quanto as idéias do próprio Lyllo. 


LYLLO & PEDRINHO
Noite limpa, Pedrinho na varanda da casa, Lyllo estava junto. Céu estrelado, o menino encantado com o firmamento, Lyllo ensina:
- Não são estrelas, Pedrinho. Estrelas não existem, são uma invenção dos adultos. Essas luzinhas que você está vendo são buraquinhos no céu. De vez em quando entra água pelos buraquinhos do céu e então chove.
- Mamãe falou que a chuva vem das nuvens.
- Bobagem, Pedrinho. Como é que as nuvens iam segurar a água lá em cima? Os adultos pensam que nós somos burros. Se tivesse água nas nuvens é claro que ela ia cair direto em cima da gente. Não pode ter água nas nuvens. As nuvens são de fumaça, que fica parada lá em cima de nós...
- Então o céu é todo esburacado?
- É sim, Pedrinho. O que nós vemos lá em cima é uma grande bola em volta da Terra. Na parte de cima é o céu, na parte de baixo fica o inferno. Na parte do céu tem muita iluminação, por isso é que aparece luz nos buraquinhos.
- A Terra não é uma bola? Papai falou que é, e que lá do outro lado fica o Japão...
- Claro que não. Se a Terra fosse redonda a água do mar ia escorrer toda lá pra baixo. E a gente lá do Japão ia cair pro inferno.
Os pais de Pedrinho chegaram na varanda e o Lyllo sumiu.

AS ESTRELAS DO LYLLO

Pedrinho não se conformava com a “explicação” do Lyllo sobre as estrelas e os tais “furinhos” no céu. Na primeira oportunidade em que reencontrou o amigo, questionou-o
- Lyllo, por que os furinhos no céu não aparecem de dia, se estão lá o tempo todo?
- É porque eles só precisam acender a luz de noite lá no paraíso, que fica atrás do céu. Já viu alguém acender a luz de dia, seu burro?

“PAPO DE MACHO”
Lyllo é amiguinho só dos meninos. As meninas têm outra fadinha que é amiguinha delas. Por isso, entre um menino e o Lyllo às vezes rola uma “conversa de macho”. Como esta, quando Gustavo foi com os pais passar uma manhã de domingo num pesque-pague. Lyllo apareceu quando Gustavo olhava a lagoa, meditativo.
- Lyllo, como é que os peixes respiram dentro da água, se lá não tem ar?
- Eles respiram água, Gustavo, igual a gente que respira ar. O ar não entra na sua boca e no seu nariz e depois sai? Pois é, com os peixes acontece a mesma coisa, só que no caso deles entra e sai água...
- É mesmo?
- Sim, Gustavo. Quando teu pai pesca um peixe ele não fica se batendo fora da água e logo morre? Pois então, ele morre porque falta água pra ele respirar...
- Peixe faz xixi, Lyllo?
- Claro que faz. Todos os bichos fazem.
- Mas peixe não tem pipi...
- Menina também não tem pipi e faz xixi do mesmo jeito...
- Do mesmo jeito não, Lyllo. Menina senta no peniquinho pra fazer...
- É porque menina não tem pipi. A cobra comeu o pipi das meninas...
- Como é essa história, Lyllo?
- Voce não ouviu os adultos dizerem que tinha o Paraíso, com um homem chamado Adão e uma mulher chamada Eva? E não tinha uma cobra que mandou a Eva comer uma maçã?
- Já ouvi, sim.
- Pois então, Eva comeu a maçã e a cobra comeu o pipi dela. E depois disso todas as meninas nasceram sem pipi e por isso não podem fazer xixi de pé...


            OS GIGANTES DO LYLLO
Juninho olhava as montanhas, encantado. Lyllo se aproximou:
- Você sabe por que existem esses morros, Juninho?
- Não sei, Lyllo. Por que?
- Porque antigamente a Terra era habitada por gigantes. Eles queriam preparar a terra pra plantar e então mexiam na terra com umas enxadas enormes...
- E depois os gigantes morreram?
- Não, Gustavo. Quando Deus do céu criou as pessoas, eles se mudaram pra baixo da terra. Hoje eles moram lá embaixo. Você já ouviu falar em terremotos?
- Já.
- Pois então, os terremotos acontecem quando os gigantes brigam entre eles lá embaixo. Eles fazem uma bagunça tão grande que a terra aqui em cima treme toda... E quando um gigante lá embaixo solta um pum, o gás sai num vulcão aqui em cima...


LYLLO COM OS ADULTOS
Já sabemos que o Lyllo às vezes se intromete nas coisas de gente grande. Depois do jogo Brasil x Paraguai, o abelhudo não se agüentou:
- Foi a desforra do Solano Lópes (ditador paraguaio na época da Guerra do Paraguai). O espírito dele fechou o gol, garantindo a vitória dos guaranis.
Para quem não sabe, o jogo era eliminatório, válido pela Copa América, teve empate em zero a zero no tempo normal e na prorrogação e, na cobrança de pênaltis, os brasileiros erraram quatro vezes: chutaram três bolas fora e o goleiro paraguaio pegou uma cobrança. E Lyllo já comentava, antes da cobrança das penalidades:
- O Brasil vai perder. Desde o início do jogo estou sentindo os eflúvios do velho sangue guarani. O Brasil tem mais futebol, mas não conseguiu marcar. Isso é coisa do sobrenatural. Os velhos índios estão presentes e agora a coisa vai complicar ainda mais. Solano Lópes vai entrar no jogo.
Deve ter entrado no lugar do goleiro...


COM A MÃE DO PAULINHO        
            - Paulinho, nós vamos sair. Vem cá, mamãe vai te trocar...
            Lyllo assume o lugar de Paulinho para responder:
            - Por que me trocar, mãe? Não gosta mais de mim?



LYLLO E O AQUECIMENTO GLOBAL
Paulinho ouviu falar de “aquecimento global” e não tem a menor idéia do que seja. Foi trocar idéias com o Lyllo:
- O que é esse negócio de “aquecimento global”. É alguma coisa de esquentar, né Lyllo?
- É sim, Paulinho. Tá todo mundo preocupado com isso. Dizem que a Terra tá esquentando e os oceanos vão subir, vão acabar as praias e muita gente vai acabar morrendo. Tudo porque o gelo que existe no pólo norte e no pólo sul tá derretendo.
- Mas por que isso tá acontecendo, Lyllo? Não dá pra diminuir a temperatura?
- Tá acontecendo porque as pessoas estão destruindo a Natureza. Mas eu tenho um plano para diminuir a temperatura da Terra, só que ninguém me escuta...
- Como é esse plano, Lyllo?
- Ora, é simples. Não é o Sol que esquenta a Terra? Então é só afastar a Terra um pouco mais do Sol que a temperatura diminui. É a mesma coisa do fogo: quando você tá perto de uma fogueira não fica muito quente? Quando você se afasta não fica mais frio? Então, taí a solução, aumentar a distância entre a Terra e o Sol.
- E como é que podem fazer isso, Lyllo?
- Bem, aí é outro problema. Não tem um monte de cientistas estudando o aquecimento? Então é só eles acharem um jeito de afastar a Terra do Sol e acabou-se a questão.

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O mundo gelado
Muito frio, muito frio! Paulinho bate o queixo, incontrolável tremedeira o faz pensar: está tudo congelando, até a água que o sereno depositou sobre o carro. Será que as palavras que a gente pronuncia também não acabarão congeladas? Resolveu consultar o Lyllo:
- Não, Paulinho, aqui no nosso mundo as palavras faladas não congelam, porque são como o vento, que sopra por todos os lados, mas sempre de um mesmo lado de cada vez. As palavras andam com o vento, por isso, quando o vento é forte, você precisa falar mais alto, pois senão as palavras vão embora antes que cheguem aos ouvidos de quem está ouvindo. Por isso, também, as palavras vão embora antes que cheguem aos ouvidos de quem está ouvindo se você falar quando o vento bate no seu rosto, pois isso quer dizer que o vento vai levar as palavras embora para trás de você, e então elas não chegam para quem está na sua frente. Sempre é preciso falar mais alto do que a força do vento.
- Mas então as palavras não congelam?
- Eu já falei: aqui no nosso mundo, não. Mas existe um mundo muito mais frio do que o nosso, no Planeta Geloso, onde as pessoas só podem entender o que as outras falam se esquentarem as palavras. Então as pessoas sempre falam em volta de uma fogueira, onde o calor do fogo esquenta as palavras e as pessoas podem se entender.
- E se não tem fogueira para as pessoas conversarem?
- Lá no Planeta Geloso as pessoas só conseguem falar umas com as outras se tiver um fogo para esquentar as palavras. Se não tiver a fogueira, elas até conseguem falar, mas as outras pessoas não conseguem ouvir, porque as palavras congelam antes de chegar aos seus ouvidos. Então, quando não tem fogueira, as pessoas andam com uns saquinhos especiais e falam dentro deles e entregam para a outra pessoa que devia ouvir. A pessoa que recebeu o saquinho leva ele junto de uma fogueira e então as palavras esquentam e podem ser ouvidas.
- E as pessoas não morrem de frio num mundo desses?
- Não, Paulinho, no Planeta Geloso as pessoas não morrem de frio porque elas têm uma pele especial que protege o corpo. É parecida com a pele de um urso aqui na Terra, mas muito mais quente.
- Então as pessoas lá nesse planeta são como bichos...
- É claro que sim, mas aqui na Terra você também é um bicho, Paulinho!

2 comentários:

elaine disse...

Amei essa página seu Otto.Muito bom saber que alguém lembra com carinho dos "papos" desses pequenos tão geniais.Dei muitas risadas com eles, e continuo rindo com meu amado filho.
Obrigada especialmente por ele.

Bjs
Elaine

André Luis disse...

Essas histórias são muito engraçadas. O Sr. Otto é muito criativo e digo isso com sinceridade, não porque é meu pai. Me lembro até hoje quando desenhei aquela história do policial. Na época eu estava no pré e morávamos no Cabral em Curitiba.